• Darwin e a evolução explicada aos nossos netosDarwin e a evolução explicada aos nossos netos, é o mais recente livro que traduzi. Foi como uma trégua depois das dificuldades encontradas na tradução de Pão e Circo, livro extremamente erudito como mencionei aqui precedentemente.

    Porém, apesar de Darwin ter sido menos complexo, não diria que sua tradução tenha sido isenta de qualquer dificuldade. Os questionamentos ligados à tradução desse livro se encontravam no fato do autor, o paleoantropólogo Pascal Picq, tê-lo escrito como uma conversa informal entre um adulto e um adolescente. Um texto fluido, agradável, mas que requer, contudo, um bom conhecimento de palavras e expressões coloquiais usadas pela juventude de hoje nos dois idiomas trabalhados, o que não é tão evidente quanto parece. Pois minha preocupação, ali, era encontrar palavras e/ou expressões equivalentes, que apresentassem o mesmo teor de familiaridade que aquelas empregadas pelo autor, mas sem cair na vulgaridade ou num excesso de formalidade acadêmica. Uma outra preocupação ligada ao uso de gírias ou expressões era evitar que fossem "caretas", como essa que acabei de usar. Ou seja, gírias da época em que eu era adolescente, mas que estão totalmente desatualizadas. 

    Independentemente dos aspectos ligados a sua tradução, gostaria de abordar, evidentemente, o conteúdo desse pequeno, porém edificante livro: ele fala não somente da teoria da evolução em si, mas também do seu autor e do contexto no qual ela foi publicada. Polêmica na época de sua primeira publicação, essa teoria é, ainda hoje, objeto de controvérsia para os que opõem a teoria da evolução às teorias criacionistas religiosas ou não. No meu ponto de vista, até mesmo para esses últimos, esse livro vale a pena e deve ser lido sem preconceitos: nada como o conhecimento devidamente fundamentado para criar um bom argumento, contra ou a favor, qualquer que seja o assunto.

    Eu o recomendo vivamente aos que se perguntam como abordar temas ligados as nossas origens e a de outras espécies com seus filhos e/ou netos, e também aos adultos que até então não haviam se interessado particularmente por esse assunto. Conhecer a teoria da evolução nos leva necessariamente a olhar o ser humano sob uma nova perspectiva, muito mais ampla, e revela a urgência de se adotar um comportamento ecologicamente responsável por todos os que habitam o planeta terra.  

     

    Darwin e a evolução explicada a nossos netos, de Pascal Picq, Editora UNESP, São Paulo, 2015.

     

     

     

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  • Le Pain et le CirquetLe Pain et le Cirque est le titre du livre que j'ai traduit l'année dernière et qui vient de paraître au Brésil. En France sa parution date de 1976. J'ai reçu mon exemplaire il y a deux jours. Encore une fois, j'ai été émue de voir ma contribution à cette oeuvre monumentale ainsi matérialisée. La maison d'édition Unesp a, encore une fois, fait un très beau travail. Le livre a presque huit cents pages. Son auteur, l'historien et archéologue français Paul Veyne, est un grand érudit et aussi un perfectionniste, caractéristique facilement repérable dans son livre. Il nous plonge habilement dans les minutieux détails de l'évergétisme - le don à la collectivité -, un phénomène largement répandu sous les empires grec et romain, grâce auquel nous retrouvons aujourd'hui encore un nombre important d'arènes, thermes et monuments divers, vestiges de cette pratique. 

    Veyne s'oppose aux interprétations qui considéraient l'évergétisme une tentative de dépolitisation des masses ou une forme de clientélisme et dissèque la complexité de ce phénomène lorsqu'il montre qu'il va bien au-delà de son aspect purement politique, révélant ses imbrications symboliques et sociales.

    Rigoureux, cet auteur nous propose simultanément une sociologie historique et une histoire sociologique de l'évergétisme. A ceux qui se demandent en quoi cela le distingue d'un livre purement historique ou purement sociologique, je suggère la lecture de la préface rédigée par l'auteur lui-même, où il aborde cette question. Voici un extrait, court et, pourtant, très instructif : "... un même événement, raconté et expliqué de la même manière, sera, pour l'historien, son objet propre, tandis que, pour un sociologue, il ne sera qu'un exemple servant à illustrer telle régularité, tel concept ou tel idéaltype". C'est ainsi que nous retrouvons les notions de charisme, d'expression, de professionnalisation (entre autres) dans "Le Pain et le Cirque - sociologie historique d'un pluralisme politique" pour expliquer des événements, mais qui sont aussi décrites pour servir d'exemple aux faits historiques. 

    Le plus surprenant dans un livre d'un tel niveau d'érudition est son langage simple, accessible aux plus communs des mortels. Ce qui a engendré quelques hésitations et questionnements chez moi pendant la traduction à utiliser des expressions qui paraissaient trop banales en portugais, mais dont la teneur correspondait tout à fait à celles employées par l'auteur. La gêne éprouvée se doit, certainement, à un certain pédantisme auquel j'ai été confrontée dans l'univers académique. Et c'est cet aspect précisément qui rend son oeuvre exceptionnelle. 

     

     

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  • Pão e CircoPão e Circo é o título do livro que traduzi ano passado e acabou de ser publicado no Brasil. Recebi meu exemplar há dois dias. Fiquei emocionada ao ver minha contribuição a essa obra monumental materializada. A Editora Unesp mais uma vez fez um belo trabalho. O livro tem quase oitocentas páginas. O autor, o historiador e arqueólogo francês Paul Veyne, é um grande erudito, e também um perfeccionista, característica que se percebe facilmente em sua obra. Ele nos introduz habilmente nos minuciosos detalhes do evergetismo - o dom à coletividade -, um fenômeno amplamente difundido sob os impérios grego e romano, graças ao qual temos ainda hoje uma grande quantidade de arenas, termas e monumentos diversos, vestígios dessa prática.

    Indo de encontro a interpretações que definiam o evergetismo como tentativas de despolitização das massas ou simples clientelismo, Veyne disseca a complexidade desse fenômeno mostrando que ele vai muito além do seu aspecto puramente político e revela suas imbricações simbólicas e sociais. 

    Rigoroso, Veyne nos propõe simultaneamente uma sociologia histórica e uma história sociológica do evergetismo. Para os que se perguntam no que isso o distingue de um livro puramente histórico ou puramente sociológico, eu aconselharia uma lida no prefácio proposto pelo autor que esclarece essa questão com maestria do qual eu reproduzo algumas linhas: "...um mesmo evento, contado e explicado do mesmo modo será, para o historiador, seu legítimo objeto, enquanto para um sociólogo, será somente um exemplo usado para ilustrar tal regularidade, tal conceito ou tal tipo-ideal." É assim que em Pão e Circo - sociologia histórica de um pluralismo político, encontramos as noções de carisma, de expressão, de profissionalização (entre outras) para explicar eventos, mas que também são descritas para serem usadas como ilustração de fatos históricos. 

    O que é surpreendente em um livro desse nível erudição é sua linguagem simples, acessível ao comum dos mortais. O que gerou em mim, inclusive, muitas dúvidas ao traduzi-lo, pois eu achava um tanto incongruente usar expressões banais como "matar dois coelhos com uma cajadada só" ou "entrar por uma orelha e sair pela outra". Mas era esse o teor das expressões originais. O desconforto que senti deve-se, com certeza, a um certo pedantismo com o qual convivi no universo acadêmico. E é exatamente esse aspecto que torna sua obra excepcional.    

     

     

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  • L'anniversaire de BouddhaDans le huitième jour du quatrième mois du calendrier lunaire est célébré l'anniversaire de Bouddha. Cet événement est aussi appelé la Fête des lanternes parce que tous les temples du pays sont couverts de lanternes colorés de différentes formes.

    Selon la tradition, chaque famille prépare un nombre de lanternes équivalent au nombre de descendants afin de leur souhaiter longue vie et bonheur.

    J'ai été dans un temple pas loin de chez moi pour observer cette fête. Il y avait beaucoup de monde, il n'y avait pas que de bouddhistes, cet événement possède une signification culturelle qui va au-delà de sa signification religieuse. C'est une fête nationale. Quelques familles pique-niquaient aux alentours du temple, d'autres se prosternaient devant une image du Bouddha dans un espace réservé à cette fin et beaucoup d'autres se servaient des boissons offertes par le temple. Dans quelques villes, comme Séoul, une procession est organisée, elle est devenue un joli spectacle apprécié des touristes.

    Même si j'ai conscience de l'aspect culturel que rêvet cet événement, peut-être parce que j'étais la seule étrangère perdue au milieu de cette foule, j'avoue m'être sentie un peu voyeur et inconfortable, comme si j'envahissais un espace sacré. Je n'y suis restée que le temps suffisant de voler quelques photos afin de les partager ici, avec vous.

    L'anniversaire de Bouddha  L'anniversaire de Bouddha    L'anniversaire de Bouddha    L'anniversaire de Bouddha

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  • Un petit peu d'HistoireLorsque j'étais en Corée, j'avais lu un livre sur l'Histoire du pays qui m'a beaucoup aidé à comprendre les regards curieux et inquisiteurs, parfois admiratifs parfois souspicieux, dont je me sentais souvent objet. Au même temps, je suis émue envers ce peuple longtemps exploité, mais qui a su si rapidement renverser la situation avec beaucoup de dignité ! 

    Ce pays a connu des siècles de domination chinoise, des décennies de domination japonaise et plusieurs tentatives de domination de diverses puissances étrangères. Et ce, jusqu'à la fermeture des frontières qui sont ainsi restées pendant plusieurs années, suite à la fin de la guerre entre les Corée du nord et du sud. 

    Selon André Fabre dans son livre "Histoire de la Corée", la présence de l'homo sapiens dans la péninsule est irréfutable. Elle a été habitée par divers groupes ethniques parsemés sur le territoire jusqu'aux années 300 AC lorsqu'il a été divisé en trois royaumes.

    Dans les années 90 AC, la dymnastie Silla domine la totalité du territoire et unifie institutionnellement et culturellement le royaume. Différentes dymnasties s'alternent au pouvoir jusqu'en 1910 lorsque le roi Sunjong, dernier monarque de la Dymnastie Yi renonce au pouvoir en conséquence de l'annexation de la Corée à l'empire Japonais. La domination japonaise va durer 35 ans, elle n'aura fin qu'à la rendition du Japon aux aliés en 1945. 

    Cependant, la fin de la domination japonaise ne représentera pas l'indépendance politique de la Corée. Les américains et les soviétiques coupent la péninsule en deux et s'autoatribuent à chacun une moitié, les soviétiques occupant la moitié nord et les américains la moitié sud. Le pays vivra sous la tutelle de ces deux pays jusqu'en 1949 lorsqu'ils retirent leurs troupes du territoire.

    C'est à ce moment là qui commencent les hostilités ouvertes entre le nord et le sud et éclate la guerre entre les deux Corées qui durera trois ans. Le 27 juillet 1953 est donc signé l'armistice qui divise la Corée en deux pays distincts, séparés par une zone delimitarisée de 4km de large et 346km de long, telle que nous connaissons aujourd'hui.

    L'existence de ces deux pays nous font penser que malgré l'unité linguistique et culturelle de leurs populations, la politique reste maître de nos destinées.    

    Un petit peu d'Histoire

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  • A invisibilidade do tradutor no BrasilNo momento da vida no qual me encontro, não quero nem busco polêmicas, e também descobri - mas isso já faz algum tempo - que não tenho que provar nada para ninguém. Por outro lado, o reconhecimento de um trabalho feito com dedicação e rigor, isso sim, é sempre bem-vindo em qualquer fase das nossas vidas, em qualquer idade, em qualquer profissão. Mesmo porque, apesar de já ter alguns anos de experiência nessa área, fico sempre na expectativa de uma observação ou crítica  - construtiva - das editoras com as quais trabalho, para evoluir, crescer, aperfeiçoar-me. Apesar de minha profissão poder ser exercida individualmente em casa na frente do computador, encaro-a como um trabalho de equipe que visa um resultado comum de qualidade, embora já tenha percebido que nem todas as agências, editoras ou clientes com os quais trabalho o vejam assim. Talvez por medo de ofender, de machucar nossos egos vulneráveis, quase nunca nos dão um retorno. 

    Porém, o assunto em questão não é exatamente esse, mas o fato de, no Brasil, não sermos citados em artigos que falam sobre uma determinada obra. Quando isso acontece, é porque a tradução foi feita por alguém "famoso" (no Brasil adoram famosos). Na França, o nome do tradutor é sempre mencionado logo depois do nome do autor, pois já entenderam, aqui, o quanto uma boa tradução é importante para uma edição bem sucedida (em termos de qualidade, não de vendas). E, claro, uma má tradução pode tornar um bom autor medíocre. A oficialização da "coautoria" do tradutor é, na verdade, também, uma forma de compartilhar responsabilidades tanto num caso como no outro. O que acho totalmente justo.

    Recentemente li um artigo no blog da Rafaela Zimermann que falava sobre isso (o link encontra-se abaixo). Segundo ela, o tradutor é alguém que se deixa ficar na penumbra para que grandes obras tenham o destaque que merecem, mas, sem o qual, tal destaque não aconteceria. A missão do tradutor seria não somente traduzir a obra, mas "deixar o escritor se exprimir em outra língua" [...] o que exige "reflexão, estudo, pesquisa e, sobretudo, sensibilidade, para permitir ao leitor algo o mais próximo possível da experiência de ler determinado autor como se tivesse fluência em sua língua".

    Em minha experiência pessoal, senti-me desconfortável ao ler o prefácio da edição brasileira de um livro que traduzi, pois suas autoras falaram da tradução sem mencionar meu nome. Totalmente invisível. Isso já havia acontecido outras vezes, não foi a primeira vez e nem será a última. Perguntei-me, então, porque naquele livro aquilo tinha me incomodado tanto. Acho que encontrei a resposta: o livro fala sobre o lugar da mulher nos textos acadêmicos, é uma releitura de grandes clássicos "resgatando o olhar (ou sua ausência) sobre as mulheres, pela ótica do gênero e do pensamento feminista". Ele parte, portando, de uma iniciativa e abordagem feministas. Não é que eu queira me auto vangloriar demasiadamente, mas tive a nítida impressão que as autoras do prefácio cometeram o mesmo lapso dos autores que supostamente criticam. Ou para dizê-lo em outras palavras, elas simplesmente perderam uma bela oportunidade de evidenciar o trabalho de uma companheira de luta, uma mulher tradutora, nem que tivesse sido por pura solidariedade feminista.

    Blog da Rafaela Zimermann

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  • J'ai récemment reçu un livre que j'ai traduit il y a deux ans environ et qui vient d'être publié au Brésil. En France il a paru en 2010. Je lis et relis des pages choisies au hasard afin de voir ce qu'a été corrigé ou changé. Ce n'est pas du masochisme, c'est pour évoluer, toujours. Je suis particulièrement fière de l'avoir traduit pour ce qu'il représente : une empreinte féministe dans les Sciences Sociales. 

    A travers une relecture critique des grands auteurs classiques des Sciences Humaines et Sociales, des chercheurs ont analysé leur pensée et leur oeuvre sous la perspective du genre, en observant de quelle manière ces auteurs-là appréhendaient le rôle ou la place de la femme dans les sociétés ou groupes étudiés, y compris par leur absence, lacune probablement révélatrice d'une certaine indifférence ou misogynie. 

    Ce qui m'a pourtant le plus marqué dans ce travail, ce fut la démystification des grands maîtres, quasiment intouchables jusqu'alors, au moins dans mon regard. Ce fut très intéressant d'envisager que lorsque Claude Lévi-Strauss qualifie les femmes comme "les biens les plus précieux" dans les relations d'échange, il a possiblement sous-estimé leur contribution économique ou socio-politique dans les groupes observés ; que le biais androcentrique des analyses de Pierre Bourdieu l'ont probablement mené à travailler plus intensément sur la violence symbolique des relations sociales, peut-être influencé par sa propre expérience personnelle, en négligeant la dynamique des relations entre les deux sexes ; et que d'une manière générale, une grande majorité d'auteurs ont rendu l'hiérarchie entre les sexes "naturelle", comme il a été suggéré dans la préface de l'édition brésilienne, rendant, par conséquent, les relations de domination des femmes par les hommes banales, en privilégiant le social comme principal facteur structurant de la dynamique sociale. En d'autres mots, la hiérarchie et la domination d'un sexe par l'autre sont appréhendées comme un fait établi et communément admis en tant que tel. 

    Il me semble inutile parler de l'importance de la publication de ce livre au Brésil et tout ce qu'il peut apporter aux chercheurs et chercheuses brésiliens. J'affirme, cependant, dans les contours personnels et égocentriques de mon travail, que je suis très heureuse d'avoir été partie intégrante de ce projet, malgré l'invisibilité du travail du traducteur. Mais cela est une tout autre histoire.    

    Références : Sous les Sciences Sociales, le genre - relecture critiques de Max Weber à Bruno Latour. Sous la direction de Danielle Chabaud-Rychter, Virginie Descoutures, Anne-Marie Devreux et Eleni Varikas, Paris, La Découverte, 2010. 

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  • O gênero nas Ciências SociaisRecebi há alguns dias um livro que traduzi há dois anos e que acabou de ser publicado no Brasil em coedição pela Editora Unesp e pela Editora da UnB. Tenho lido e relido páginas que escolho aleatoriamente para ver o que foi corrigido ou alterado, não por masoquismo, mas para melhorar sempre. Tenho um orgulho particular em tê-lo traduzido devido ao que ele representa: um marco feminista nas Ciências Sociais.

    Através de uma releitura crítica dos grandes autores clássicos das Ciências Humanas e Sociais, pesquisadores analisam seu pensamento e sua obra sob a ótica do gênero, observando como tais autores apreendiam o papel ou o espaço das mulheres nas sociedades e grupos estudados, inclusive pela sua ausência, lacuna muitas vezes reveladora de uma certa indiferença ou misoginia. 

    O que achei extremamente pertinente nesse trabalho foi a desmistificação de grandes mestres, quase intocáveis até então. Pelo menos para mim. Foi muito interessante perceber que ao qualificar as mulheres como "os bens mais preciosos" nas relações de troca, Claude Lévi-Strauss talvez tenha subestimado sua contribuição econômica ou sociopolítica nos grupos observados; que o viés androcêntrico das análises de Pierre Bourdieu talvez tenha-o levado a trabalhar mais intensamente sobre a violência simbólica das relações sociais, possivelmente influenciado por sua experiência pessoal, negligenciando a dinâmica das relações entre os sexos; e que de um modo geral, uma grande maioria de autores tenha tornado a hierarquia entre os sexos "natural", como foi colocado no prefácio da edição brasileira, banalizando, por conseguinte, as relações de dominação das mulheres pelos homens ao privilegiarem o social como principal fator estruturante da dinâmica social. Ou seja, a hierarquia e a dominação de um sexo pelo outro são apreendidas como um fato estabelecido e comumente aceito como tal.

    Seria inútil dizer a importância da publicação desse livro no Brasil e tudo o que ele pode acrescentar aos estudos das pesquisadoras e dos pesquisadores brasileiros. Limitar-me-ei, aqui, ao âmbito pessoal e egocêntrico do meu trabalho, afirmando que estou feliz em ter sido parte integrante desse projeto, apesar da invisibilidade do trabalho do tradutor. Mas essa é uma outra história.    

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  • A legendagemFiz recentemente uma formação em legendagem que foi, para mim, uma grande descoberta. Quantas vezes já não criticamos uma legendagem ao assistirmos um filme ou documentário e observarmos que o que está escrito não corresponde exatamente ao que foi dito? Mas como em tudo na vida, críticas fáceis em geral são feitas por quem não conhece ou reconhece as dificuldades de um trabalho realizado. Afinal, quanto mais conhecemos um assunto determinado, mais nos tornamos tolerantes e compreensivos diante de eventuais erros ou enganos de outros. Isso ocorre com a legendagem. Quando se conhece as contrariedades e limitações para sua realização, compreende-se perfeitamente que aquela troca de palavra ou a supressão de um termo não foi um erro mas uma necessidade. 

    A legendagem seria então, sob alguns aspectos, o oposto do que costumo fazer quando redijo um texto acadêmico ou uma tradução científica. Nesses, procuramos termos complexos e sofisticados, optamos por uma certa elegância na forma, uma certa erudição. No caso da tradução, tentamos manter o texto traduzido no mesmo nível de complexidade do texto fonte. Pelo que aprendi nessa formação, o legendista, ao contrário, deve ser suscinto para que o tempo do texto corresponda ao tempo da fala, pois o tempo de leitura do espectador é menor. Ele deve também simplificar ao máximo pois o objetivo, ali, é abranger o maior público possível: quanto maior o público alvo, maior a heterogeneidade social, econômica e, por conseguinte, a compreensibilidade. Consequentemente, o legendista deve buscar expressões ou palavras que tenham o mesmo significado do texto original, mas que sejam curtas, simples e diretas. A palavra-chave da legendagem, diferentemente da tradução, é a concisão. A legendagem deve respeitar marcações e segmentos que, felizmente, não existem na tradução. Tudo é bem cronometrado e delimitado. Assim, a tradução para áudio ou mesmo a legendagem intralingual devem ser enxutas. 

    Resumindo as minhas impressões, diria que a legendagem é uma profissão em si, embora seja próxima da tradução em muitos aspectos, em particular na necessidade de transmitir significados de um emissor para um (ou vários) receptor(es). Eu adorei e aprendi muito.

    Para aqueles que se interessam pelo assunto, minha formação foi feita à distância com o Marco Azevedo. O curso básico tem uma duração de duas horas, mas existe a possibilidade de aperfeiçoamento caso necessário ou desejado. O Marco Azevedo foi extremamente paciente, inclusive com os meus parcos conhecimentos em informática. Ele oferece outros cursos na mesma área e emite um certificado após conclusão. Deixo abaixo suas coordenadas. 

    Tradução e legendagem - Marco Azevedo

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  • Há alguns dias comecei uma pequena campanha para o ensino da antropologia nas escolas. Solitária, mas cheia de convicção. O momento é oportuno, principalmente aqui na França. Está tendo um debate em torno da ideia do ensino da laicidade e do fato histórico nas escolas. Que disciplina poderia melhor abordar esses temas do que a antropologia? Ora, a principal característica dessa disciplina é a neutralidade, ela não se limita a transmitir o conhecimento, ela também age no olhar que se tem de si, dos outros e consequentemente da sociedade na qual vivemos. 

    Escrevi, então, à Ministra da Educação Nacional. Também enviei minha sugestão a alguns debates em radios francesas. Eu sei, no entanto, que essas cartas ficarão sem resposta, e é por isso que recorro agora a meu blog. Para convidar os que creem, como eu, que a antropologia poderia integrar o programa escolar dos alunos seja no primário ou em outros níveis de ensino, a aderirem a minha campanha. Assim, a laicidade seria ensinada em seu contexto histórico, e o fato religioso em um amplo painel que incluiria também religiões não monoteístas. E as diferenças culturais seriam mostradas como o que são: diferenças no sistema de valores e de pensamento, na visão do mundo, muito além das diferências culinárias ou de vestuário.

    Quando eu exercia a antropologia, fui chamada para intervir em uma associação humanitária que tinha uma missão na qual se misturavam diversas nacionalidades. Havia muitos conflitos pois o problema da interpretação dos comportamentos de uns pelos outros aumentava e atrapalhava o desenvolvimento de seu projeto. Eu preparei então uma conferência com a ajuda de um dos meus incontestados mestres, usei o discurso que Claude Lévi-Strauss fez na sede das Nações Unidas intitulado "Raça e história". Tentei quebrar seus paradigmas, inverter sua visão das coisas, e creio que obtive algum sucesso. Os ouvintes sairam de lá diferentes pois, antes, criticavam através do filtro de sua própria cultura, com um olhar carregado de seus próprios valores e conceitos pré-estabelecidos (ou preconceitos), em outras palavras, julgavam ao invés de tentar compreender. E é essa questão de interpretação errônea que se encontra no âmago dos conflitos interétnicos, sejam de pequena ou de grande escala.

    Não creio, evidentemente, que as coisas vão evoluir em uma boa direção como um toque de mágica, mas estou totalmente convencida que o ensino dessa disciplina nas escolas poderia tornar a vida em sociedade um pouco menos dura, que ela poderia contribuir com uma abertura do olhar de cada um de nós. O credo "diferentes mas iguais" adotaria, com ela, todo o seu sentido.

     

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