• "O mito da raça pura" no BrasilEm 2007, eu e minha família nos instalamos na Coréia do Sul onde vivemos durante dois anos e meio. Foi minha  primeira experiência asiática.

    Para uma antropóloga como eu, foi uma enorme descoberta, esse país se apresentava como um campo de estudos quase virgem, pois a abertura de suas fronteiras era relativamente recente. Com exceção dos americanos presentes desde o fim da guerra, os coreanos tinham pouco contato com o exterior. Dentre as suas diversas particularidades culturais, uma descoberta chamou muito minha atenção: os coreanos acreditam ser uma raça pura. Sendo oriunda da sociedade brasileira considerada por especialistas a sociedade mestiça por excelência, interessei-me por este aspecto que considero central na sociedade coreana. No momento em que o mundo fervia e vivenciava a criação de novas sociedades através de um processo de mestiçagem cultural, linguístico e étnico, principalmente durante as grandes descobertas marítimas, os coreanos fechavam suas fronteiras e consolidavam uma forte solidariedade interna. Buscando os elementos simbólicos de sua coesão social no mito de origem personificado pela imagem de Tangun, o pai fundador, a crença na pureza de sua raça se consolidou, fazendo-os acreditar que pertencem, todos, a uma mesma linhagem de sangue. Foi essa perspectiva que eu me interessei em verificar, principalmente hoje, quando os membros do antigo Reino Ermita, que se protegeu do contato com o exterior durante séculos, são obrigados a estabelecer relações com os estrangeiros que se instalam, cada vez mais numerosos, em seu próprio território.

    A pesquisa, as observações e as entrevistas realizadas durante esses dois anos gerou um livro que chamei de "O mito da raça pura na Coréia do Sul". É um livro para neófitos, introdutório, sem pretensões, um olhar mais do que um estudo. Eu o havia publicado primeiramente na Coreia em 2009, em francês, e mais tarde o publiquei também aqui na França. Em 2011 decidi traduzi-lo para o português mas sua comercialização era feita através da Amazon sediada na Inglaterra, o que implicava um custo de envio muito alto. Hoje pude, enfim, colocá-lo em um site brasileiro, o Clube dos Autores, a pedido de uma professora da USP que o recomendou a seus alunos.

    Espero que esse pequeno livro possa transportá-los comigo no País das Manhãs Calmas

    https://clubedeautores.com.br/book/150831--O_mito_da_raca_pura

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  • Publicação de "O mito da raça pura" no BrasilEm 2007, eu e minha família nos instalamos na Coréia do Sul onde vivemos durante dois anos e meio. Foi minha  primeira experiência asiática.

    Para uma antropóloga como eu, foi uma enorme descoberta, esse país se apresentava como um campo de estudos quase virgem, pois a abertura de suas fronteiras era relativamente recente. Com exceção dos americanos presentes desde o fim da guerra, os coreanos tinham pouco contato com o exterior. Dentre as suas diversas particularidades culturais, uma descoberta chamou muito minha atenção: os coreanos acreditam ser uma raça pura. Sendo oriunda da sociedade brasileira considerada por especialistas a sociedade mestiça por excelência, interessei-me por este aspecto que considero central na sociedade coreana. No momento em que o mundo fervia e vivenciava a criação de novas sociedades através de um processo de mestiçagem cultural, linguístico e étnico, principalmente durante as grandes descobertas marítimas, os coreanos fechavam suas fronteiras e consolidavam uma forte solidariedade interna. Buscando os elementos simbólicos de sua coesão social no mito de origem personificado pela imagem de Tangun, o pai fundador, a crença na pureza de sua raça se consolidou, fazendo-os acreditar que pertencem, todos, a uma mesma linhagem de sangue. Foi essa perspectiva que eu me interessei em verificar, principalmente hoje, quando os membros do antigo Reino Ermita, que se protegeu do contato com o exterior durante séculos, são obrigados a estabelecer relações com os estrangeiros que se instalam, cada vez mais numerosos, em seu próprio território.

    A pesquisa, as observações e as entrevistas realizadas durante esses dois anos gerou um livro que chamei de "O mito da raça pura na Coréia do Sul". É um livro para neófitos, introdutório, sem pretensões, um olhar mais do que um estudo. Eu o havia publicado primeiramente na Coreia em 2009, em francês, e mais tarde o publiquei também aqui na França. Em 2011 decidi traduzi-lo para o português mas sua comercialização era feita através da Amazon sediada na Inglaterra, o que implicava um custo de envio muito alto. Hoje pude, enfim, colocá-lo em um site brasileiro, o Clube dos Autores, a pedido de uma professora da USP que o recomendou a seus alunos.

    Espero que esse pequeno livro possa transportá-los comigo no País das Manhãs Calmas

    https://clubedeautores.com.br/book/150831--O_mito_da_raca_pura

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  • A autopublicaçãoParticipei, recentemente, de um fórum de discussões cujo tema era a autopublicação. Os argumentos dos que se posicionavam contra essa forma de publicação - que devemos às novas tecnologias - parecem-me claros: a qualidade dos textos nem sempre é digna de ser publicada tanto pelo conteúdo quanto pela forma pois na grande maioria dos casos esses autores não contam com revisores e corretores que constituem etapas indispensáveis no processo de publicação de um livro por uma editora. 

    Apesar de ser parte interessada por ter publicado, eu mesma, meus livros, parece-me impossível questionar tais argumentos. É fato que encontramos livros mal escritos e/ou mal formatados e outros cujos temas apresentam um interesse relativo. Ora, seria hipócrita não admitir que o ideal de todo escritor é ver seu trabalho publicado por uma editora reconhecida, em todo caso é o meu, e ter, assim, sua obra devidamente comercializada em livrarias. Contudo, o número cada vez maior de autores e a relevância relativa dos temas propostos fogem ao alcance dos imperativos comerciais das editoras. A autopublicação impõe-se, então, como um excelente meio de divulgação de trabalhos que nunca teriam sido antes publicados. O autor deverá, depois disso, preparar-se para as apreciações do leitores, nem sempre amáveis, pois serão eles os seus críticos diretos. 

    Dentre os diversos argumentos a favor, o que considerei mais interessante e pertinente não encontrava-se na discussão citada mas em um texto escrito por Paulo Coelho em uma edição especial da revista Época em junho de 2012 intitulado "O intelectual está morto, viva o intelectual". Ele afirma que pela primeira vez em nossa história temos acesso irrestrito a bens culturais fazendo com que o autor desconhecido comece a ter a possibilidade "de encontrar o seu lugar ao sol de maneira rápida e efetiva, independentemente do apoio tradicional da mídia". Colocando tal fato em uma edificante perspectiva histórica, ele nos lembra o pouco ou nenhum reconhecimento que certos autores tiveram de críticos literários ou da imprensa em sua época e nos dá alguns exemplos: ao falar de Shakespeare, o crítico literário Lord Byron teria dito que "seu nome é supervalorizado, logo será esquecido", ou citando o jornal Le Figaro em 1857 ao afirmar que "Flaubert não é um escritor" ou ainda o New York Herald Tribune ao comentar o lançamento de O Grande Gatsby afirmando que "esse livro não dura uma temporada". 

    Paulo Coelho termina seu artigo convidando essa nova geração de escritores brasileiros a servirem-se dos novos meios de produção e divulgação que estão a seu alcance sem preocuparem-se em agradar necessariamente aos que ele chama de pseudoeruditos referindo-se aos críticos literários. 

    Ele sabe do que fala. Esse autor, que sempre foi desprezado por críticos literários, é o escritor brasileiro mais traduzido e mais publicado fora do Brasil, muitos dos seus livros obtiveram um enorme sucesso comercial em vários países, em particular aqui na França. Acredito que Erika Leonard James posicionaria-se, também, a favor da autopublicação pois foi assim que o sucesso fenomenal da saga "Cinquenta tons de cinza" - quarenta milhões de exemplares vendidos - começou. 

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  • Vícios de linguagem

    Não sou linguista mas desde que comecei a trabalhar com idiomas e principalmente com traduções para o português, minha língua materna, tenho estado mais atenta ao modo como me exprimo. Observo também como as pessoas se expressam sejam elas amigas ou anônimas, jornalistas ou autores. Meu marido diagnosticou esse meu comportamento como uma saudável deformação profissional pois meu objetivo é evoluir, aprender, melhorar. 

    Recentemente li um artigo na página facebook do professor Márcio Wesley que falava sobre os vícios de linguagem, chamando a atenção para a construção "vou estar enviando", "vou estar transferindo" ou "não pude estar comparecendo" que parece estar na moda. Ele afirma que "o que parece chique, na verdade, é de lascar". Seria mais simples e correto dizer "enviarei", "não pude comparecer" ou "telefonarei".  

    Eu já havia percebido e mesmo comentado essa estranha construção - talvez até a tenha usado. Aproveito, então, o assunto para falar de um outro fenômeno recorrente que observei no Brasil: a omissão do pronome oblíquo nos verbos pronominais que deixam, assim, de ser pronominais ("ela chama Maria", "meus pais divorciaram","ele arrependeu do que disse"). Fui então ler um pouco sobre o assunto para verificar se não era um engano meu, com tantas reformas na língua portuguesa talvez eu tivesse perdido essa.

    Após uma rápida pesquisa, confirmei que existem verbos essencialmente pronominais e verbos acidentalmente pronominais. Ou seja, alguns verbos devem somente ser conjugados com o pronome reflexivo (como o verbo arrepender-se) e outros tornam-se pronominais quando representam atitudes próprias do sujeito (como o verbo mudar que torna-se mudar-se). A professora Maria Tereza de Queiroz Piacentini diz em seu site que já existe um aval para a eliminação, inclusive no nível culto da língua, do pronome reflexivo junto a alguns verbos tornando-os facultativos, como por exemplo o verbo casar-se ou sentar-se. Mas recomenda o uso do pronome reflexivo sempre que a situação o exija. 

    Ora, eu acreditava, até então, que a regra gramatical era, em si, uma exigência. Em minha modesta opinião, acho que esse excesso de reformas e "permissões" estão dificultando a comunicação ao invés de facilitá-la pois estão empobrecendo a língua portuguesa em nosso país. Pessoalmente sou contra, acho que deveríamos, ao contrário, encontrar um meio de valorizar e divulgar o uso culto de nosso idioma. Depois do "que" universal ("o restaurante que eu comi", "a pessoa que eu falei", "o lugar que fui"), da banalização do tu conjugado na 3ª pessoa do singular, assistimos ao desaparecimento da reflexividade dos verbos pronominais. Pergunto, então, a que outro vício de linguagem será dado o próximo aval? Quais serão as próximas discrepâncias gramaticais que receberão a permissão de introduzirem-se e instalarem-se oficialmente em nossa língua? Até onde seremos condescendentes com a degradação da linguagem coloquial em nosso país? Ao invés de investir em reformas gramaticais onerosas e estéreis que engendram confusão, o governo deveria investir mais - e muito mais - no ensino básico. 

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  • Durante muitos anos exerci a profissão de antropóloga ensinando civilização brasileira na França e civilização francesa no Brasil e na Coreia do Sul. Nesse período, escrevi textos sobre o Brasil abordando questões sobre a nossa jovem democracia o que constituiu, inclusive, o tema central da minha tese de doutorado tornando-se o livro O Brasil para inglês ver. Focalizei minha análise nos valores dominantes na sociedade brasileira, e não no sistema eleitoral propriamente dito, considerados como a principal barreira para a instauração de uma democracia efetiva que se manifestasse além do ato de votar.

    Dentre os textos redigidos, alguns foram publicados em revistas e livros franceses, belgas e brasileiros especializados em Ciências Sociais. Tive o orgulho de ter um artigo publicado no prestigioso jornal francês Le Monde Diplomatique. Outros não foram publicados. 

    Decidi reuni-los em um livro a fim de manter a coesão de meu trabalho. Ao relê-los, fiquei surpresa em constatar o quanto esse tema ainda é, hoje, atual. Essa coletânea pode, assim, ser apreendida como um modo de observação da evolução da sociedade brasileira nos últimos vinte anos, o que mudou e o que mantém-se ainda inalterado.

    Mantive os textos no idioma em que foram originalmente escritos, consequentemente alguns podem ser lidos em português e outros em francês.

    Acredito que sejam meu melhor cartão de visitas. 

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  • JinjuNo final de nossa estada coreana visitamos uma cidade à 115km de Busan que se chama Jinju. 

    Como todas as grandes e médias cidades desse país, Jinju também se caracteriza pela onipresença de prédios com propagandas cintilantes, ruas movimentadas e barulhentas. Ela torna-se, contudo, especial pela presença do rio Nangang que a corta ao meio, quebrando o peso estético do concreto. Mas o que atrai turistas a esta cidade é a existência de um forte, construído há quinhentos anos para protegê-la contra as invasões japonesas. A batalha de Jinju foi uma das mais sangrentas da história da resistência coreana às invasões estrangeiras, atribuindo um importante valor histórico à cidade. Atualmente o forte é usado pela população local como um parque para caminhadas, meditação e pique-niques em família.

    A especialidade culinária da cidade é enguia grelhada, servida na grande maioria dos restaurantes locais o que também atrai visitantes de cidades vizinhas.

              Jinju             Jinju            Jinju

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  • A comida coreanaAntes de eu ir para a Coreia, ouvia muito falar sobre o fato de os coreanos comerem carne de cachorro ou polvos vivos. No que diz respeito à carne de cachorro, ela não consta mais dos hábitos alimentares do coreano já há algum tempo embora não possa afirmar se no campo remoto esse hábito ainda perdure. Quanto ao polvo vivo, esse sim é considerado um prato sofisticado servido em ocasiões especiais. Pode ser consumido inteiro, que eu, pessoalmente, desaconselho (algumas pessoas já morreram asfixiadas ao fazê-lo), o mais comum, sendo, contudo, os tentáculos recém cortados que são servidos ainda em movimento à mesa.  

    Mas a cozinha coreana vai muito além disso, embora não apresente uma grande variedade de iguarias. Ela é quase sistematicamente composta de vários pequenos pratos com legumes, peixes secos e frescos, queijo de soja, sopas e verduras servidos no centro da mesa onde cada um pode se servir diretamente no recipiente comum a todos, seja com suas baguetes ou com uma colher. Para os coreanos, comer é um verdadeiro momento de partilha mesmo se, de acordo com a etiqueta, não se deve falar à mesa. Embora a grande maioria dos restaurantes sirva pratos únicos compartilhados por todos, pode-se também encontrar alguns pratos individuais como o bibimbap, uma mistura de arroz, legumes, carne picada e um ovo estrelado regado à molho de soja e óleo de gergelim.

    Uma das mais marcantes caractérísticas da comida coreana é a pimenta, muitos desses legumes são extremamente apimentados. Mas atenção, os pratos "quentes" baianos são fichinha quando comparados com os "quentes" coreanos. 

    O que eu acho mais interessante nesse país é o fato deles terem criados vários pratos diferentes com os mesmos legumes e carnes de base, inclusive com o nosso feijão  com arroz nacional. O arroz aqui compõe vários pratos de diferentes maneiras, sucos e sobremesas, inclusive o principal doce coreano é feito à base de arroz: eles produzem diferentes tipos de arroz, pretos, rosas, brancos e jogam com as cores pra decorar bolos de casamento. E o que é mais interessante ainda é a maneira como usam o feijão mulatinho: encontramos o feijão em recheio de pães, brioches e - pasmem - como cobertura de sorvete que faz o maior sucesso. Eles usam muitos legumes pra fazer doces como a ervilha, a abóbora, e até a babosa com a qual eles fazem um suco delicioso e saudável. 

    Ir ao restaurante pra mim era um grande programa porque a gente nunca sabia o que ia comer: tem o churrasquinho que é preparado na própria mesa instalada com um buraco no meio onde colocam a brasa, você só tem que assar; tem o que eu chamo de "fondue coreana", um caldo cheio de sabores de frutos de mar, temperos e algas que vem fervendo na mesa onde você cozinha sua carne, sua massa ou seu peixe; tem uma trouxinha que a gente faz com as diversas verduras, folhas em particular, colocando um pedaço de carne ou de peixe, arroz, legumes e mergulhando no molho de soja. Tudo com muito tempero, óleo e sementes de gergelim, molho de soja, e a famosa pimenta vermelha. E, claro, junto a todos essas iguarias nunca falta o kimchi, sobre o qual já falei aqui, onipresente, servido como acompanhamento ou em sopas, em panquecas e mesmo nos restaurantes ocidentais. 

    Muitos estrangeiros que encontrei não apreciavam a comida dali e preferiam pagar três ou quatro vezes o valor da comida local por uma comida internacional. Quanto a mim, preferi brincar de cobaia e me submeter a essa tortura de sabores.

               A comida coreana         A comida coreana         A comida coreana

     

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  • O aniversário de Buda

    No oitavo dia do quarto mês do ano de acordo com o calendário lunar é festejado o aniversário de Buda, o que ocorre por volta do mês de maio no calendário solar. Chamam-no também a Festa das lanternas porque todos os templos do país são cobertos de lanternas coloridas de diferentes formas. 

    De acordo com a tradição, cada família oferece ao templo de sua escolha um número de lanternas equivalente ao número de seus descendentes pedindo vida longa e felicidade para cada um deles.

    Estive em um templo perto de onde eu morava para observar essa festa. Estava muito cheio, não são somente os budistas que participam deste evento, ele possui um significado cultural que vai além de sua significação religiosa, esse dia sendo, inclusive, feriado nacional.

    Algumas famílias faziam pique-nique nos arredores do templo, outras prostravam-se diante de uma imagem de Buda em um espaço reservado para isso e muitas outras serviam-se de bebidas, geralmente o chichê, à base de arroz, e lanches oferecidos pelo próprio templo. Em algumas cidades, como Seul, grandes procissões são organizadas tendo-se transformado em um evento muito procurado pelos turistas. 

    Apesar de ter consciência do aspecto cultural de tal festa, talvez por eu ter sido a única estrangeira perdida no meio de tanta gente, confesso ter me sentido um pouco voyeur e desconfortável, como se estivesse invadindo um espaço sagrado. Fiquei apenas o tempo suficiente de observá-lo para poder compartilhar tal evento aqui, com vocês. 

    A foto de Buda acima e as três fotos abaixo são da minha querida amiga Ana Tonidandel:  http://cthrumyeyes.com

             O aniversário de Buda          O aniversário de Buda          O aniversário de Buda 

      Estas três foram tiradas por mim:

             O aniversário de Buda           O aniversário de Buda         O aniversário de Buda

     

     

     

     

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  • No final de semana li um artigo que falava sobre o modo como a língua de um país estrutura o pensamento de um povo, considerada um dos principais elementos constitutivos da cultura. Esse debate é antigo, nem todos os especialistas concordam com essa corrente de pensamento e afirmam o contrário. Não vou, aqui, tomar partido, mas dizer que esse artigo me levou a pensar em uma reportagem interessantíssima que assisti recentemente sobre as mudanças sociais profundas que estão ocorrendo já há algum tempo na Suécia. O tema principal era o sexismo e os instrumentos de luta contra discriminações sexistas de um modo geral e a discriminação contra a mulher em particular. 

    Na Suécia, um dos países mais igualitários do mundo em termos de gênero, diferenças ligadas ao sexo estão sendo progressivamente abolidas. Elas vão desde a instauração da licença paternidade, a reivindicação da igualdade salarial entre homens e mulheres até a indistinção sexual nos hábitos vestimentares. Algumas famílias vestem seus filhos com vestidos, calças compridas ou saias indiscriminadamente. As crianças escolhem o que querem vestir sem se perguntar se aquela peça é (ou era), à princípio, usada por meninos ou meninas. Os cortes de cabelo também não obedecem à nenhuma distinção sexual. Nas creches e escolas primárias são feitos exercícios que mostram homens exercendo atividades antes consideradas femininas e mulheres exercendo atividades antes consideradas masculinas. O objetivo desses profissionais é anular qualquer identificação pelo sexo, considerada inútil na vida social pois nosso comportamento não deveria, segundo essa corrente, ser orientado pelo fato de ter-se diante de si um homem ou uma mulher. O que mudaria e porque? O respeito, a consideração, as regras cívicas devem ser indistinitamente aplicadas a um e a outro sexo.

    Porém, esses profissionais esbarraram-se em uma questão aparentemente anódina mas essencial para a evolução não somente da prática desses exercícios mas, em última instância, dos valores sociais dominantes: como mencionar uma pessoa sem que a questão da identidade sexual seja necessariamente implicada já que devemos dizer ele ou ela, han ou hon (pronomes pessoais masculino e feminino em sueco)? Criaram, assim, um pronome neutro, o pronome HEN, nem masculino nem feminino, que não existia no idioma sueco. 

    A criação e a introdução desse pronome neutro na língua sueca me pareceu um excelente tema de discussão referente à questão da influência da língua pela cultura ou da cultura pela língua. Sabemos que o pronome neutro existe em outras línguas, mas ele mostra o longo caminho que nós, de língua e cultura latinas, temos para percorrer a fim de atingirmos esse patamar de neutralidade na luta contra as discriminações sexuais. 

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  • Muito tem se ouvido sobre as Coreias do Norte e do Sul ultimamente, não somente pela sua cultura popular e o fabuloso sucesso dos k-pop e do cantor Psy mas também, e infelizmente, pelas ameaças feitas pelo atual presidente norte Coreano Kim Jong-un. Apesar dessa recente notoriedade, esses países mantém ainda um certo mistério, provavelmente  pelo fato de terem-se voluntariamente fechado durante muitos anos. Quando se conhece um pouco de sua História, entende-se bem porque.

    Ora, a península que é hoje constituída pelo dois países, a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, vivenciou séculos de domínio chinês, décadas de domínio japonês e muitas tentativas de domínio de diversas potências estrangeiras. 

    De acordo com o historiador André Fabre no livro "Histoire de la Corée", a presença do homo sapiens na península é irrefutável. Ela foi habitada ininterruptamente por diversos grupos étnicos com comportamentos distintos até aproximadamente os anos 300 AC quando o território foi dividido em três reinos. É o período designado Os três reinos da Coreia. 

    Nos anos 90 AC, a dinastia Silla toma o domínio da totalidade da península e unifica institucionalmente e culturalmente o reino. Em 1392 o general Yi Seonggye assume o poder dando início ao reinado da Dinastia Joseon (também conhecida como Dinastia Yi), idade de ouro desse país. Foi sob o reinado Joseon que o confucionismo foi adotado como ideologia dominante e o hangul, o alfabeto coreano, foi criado (ver rúbrica específica). Ela ficará no poder até 1910, ano em que o rei Sunjong, último monarca dessa dinastia, renuncia ao trono devido a anexação da Coreia pelo império japonês.

    O domínio do Japão sobre a Coréia vai durar 35 anos, só terminará com a rendição do Japão aos aliados em 1945 no final da segunda guerra mundial. Porém, o fim do domínio japonês não significa a independência do país. Os americanos e soviéticos dividem a península em dois e se auto-atribuem a metade pra cada um, os soviéticos ocupando a metade norte e os americanos a metade sul, que viveriam sob tutela até em 1949, quando ambos retiram suas tropas.

    É nesse momento que as hostilidades entre o norte e o sul começam, a guerra entre as duas Coreias vai durar três anos. No dia 27 de julho de 1953 é assinado o armistício que separa as duas Coréias em dois países distintos através de uma zona delimitarizada de 4km de largura e 346km de comprimento tal qual a conhecemos atualmente.

    Nos dias de hoje são dois países distintos com características opostas que compartilham a península, uma ditadura comunista no norte, considerada por especialistas o país mais militarizado e o menos democrático do mundo, e um próspero país capitalista no sul, classificado a décima segunda potência econômica do mundo.

    Depois de muitos anos de coabitação pacífica, esse equilbrio tem sido ameaçado desde a chegada no poder do presidente norte coreano Kim Jung-il em 2011.   

     

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