• Grandeza e miséria dos tradutoresGrandeza e miséria dos tradutores é o título de um artigo publicado na revista francesa Le Nouvel Observateur há duas semanas. Ele transmite alguns dados - contestados por alguns - sobre a profissão de tradutor aqui na França, que achei interessante compartilhar para que pudéssemos utilizá-los, a título comparativo, na avaliação da condição do tradutor no Brasil. Eu, pessoalmente, não tinha elementos para avaliar o texto, mas tomei as informações transmitidas como referências de uma profissão tão vasta e diversificada como a nossa. E acima de tudo, esse artigo tem o grande mérito de chamar a atenção para uma profissão tão pouco conhecida, frequentemente esquecida ou até mesmo negligenciada. Eu me senti um pouco menos sozinha aqui no meu canto... 

    De acordo com o artigo do jornalista Jacques Drillon, oito em cada dez tradutores são na verdade tradutoras; os tradutores técnicos são frequentemente empregados assalariados em empresas ou agências especializadas com uma remuneração que varia de 16.000 a 90.000 euros brutos por ano; os tradutores editoriais são independentes e devem publicar seis ou sete livros aproximadamente por ano para obter uma renda correta; comparativamente, na Alemanha  - segundo o jornalista - um tradutor deve publicar três ou quatro vezes mais para viver de seu trabalho; cada ano 150 profissionais entram no mercado de trabalho na França, dentre os quais 80 traduzem do inglês.

    Ele continua afirmando que nessa profissão "é raro ter regra, a regra é a negociação". E que a remuneração dos tradutores sofreu uma queda de 15 à 30% aqui na França nos últimos 15 anos apesar de uma revalorização calculada por alguns editores de aproximadamente 10%. Essa baixa deve-se principalmente ao modo como o trabalho efetuado é calculado, totalmente transtornada com o surgimento dos computadores como ferramenta de trabalho. Antes, quando datilografava-se na máquina de escrever, a base de cálculo era uma lauda de 25 linhas, o editor contava o número de laudas realizadas para pagar seu tradutor. Com a chegada dos editores de texto e a possibilidade de contar palavras, os editores eliminaram os espaços, o que engendrou uma mudança no cálculo e uma queda considerável no valor final. 

    Fiquei surpresa ao ler que, de acordo com o jornalista, alguns tradutores recebem seu cheque somente depois da publicação do livro e não depois da entrega do trabalho efetuado. Felizmente, pessoalmente, nunca vivenciei tal situação, espero honestamente que não seja uma prática comum.

    Uma informação que gerou polêmica quando publiquei esse post em francês em fóruns de discussão diz respeito ao número de palavras traduzidas em um dia de trabalho. Segundo o jornalista, alguns tradutores traduzem 1000-1500 palavras por hora, outros 200-400, o que representa uma grande disparidade em termos de produtividade. 

    Outra informação surpreendente concerne a correção ou revisão do texto. O jornalista diz que algumas traduções não são relidas por um outro profissional, sendo publicadas diretamente após a tradução. Ele menciona o caso da publicação de "Millênio" que continha centenas de erros grosseiros em sua tradução para o francês. Não li o livro, não tenho elementos para julgar, mas lamento pelo tradutor. Parece-me muito complicado criticar sem conhecer as condições em que tal trabalho foi efetuado, o prazo que lhe foi dado, o que foi negociado enfim. 

    Para terminar o jornalista afirma que o tradutor é um autor, que seu nome deve aparecer na capa ou pelo menos constar em algum lugar do livro, e que ele detém um direito moral inalienável sobre seu trabalho. Será que esse princípio realmente se aplica na prática e de que maneira?

    Dentre as diversas reações a esse artigo, muitos comentaram o número de palavras traduzidas por hora considerando impossível atingir as 1000/1500 informadas; outros tradutores franceses reagiram à questão do "direito moral inalienável" e me informaram que aqui na França os tradutores podem pedir para reler o texto após correção já que é seu trabalho que será lido e é a sua competência que estará em evidência. De um modo geral, houve um consenso sobre a imprecisão dos dados. Em todo caso, as informações transmitidas e as reações provocadas constituem, juntos, elementos instrutivos para compararmos e avaliarmos a condição da nossa profissão no Brasil e em diferentes partes do mundo. 

    Fontes usadas pelo jornalista: "La Condition du traducteur", de Pierre Assouline (CNL, 211) e uma pesquisa realizada em 2010 pelo Sindicato nacional dos Tradutores profissionais.

     Obs: Para os que lêem francês, um tradutor deixou um comentário muito interessante em "Grandeur et misère des traducteurs" aqui mesmo nesse blog.

     

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  • Grandeur et misère des traducteursGrandeur et misère des traducteurs est le titre d'un article paru dans le Nouvel Observateur de la semaine dernière consacré au métier de traducteur. Même s'il n'y a aucun scoop - pour utiliser un terme journalistique, il a le mérité de s'intéresser à notre métier si souvent oublié, voire même négligé et dont l'importance ne cesse de s'accroître. J'ai appris des petites choses intéressantes qui aident à mettre notre solitaire profession en perspective, que je partage ici avec vous:

    D'après l'article de Jacques Drillon, huit traducteurs sur dix sont des femmes; les traducteurs techniques sont souvent des employés qui travaillent en CDI pour des entreprises ou des agences spécialisées avec une rémunération qui va de 16.000 à 90.000 euros bruts par an, certains nécessitent arrondir leurs fins de mois par des traductions supplémentaires; les traducteurs de livres sont indépendants et doivent publier six ou sept livres par an pour vivre correctement; pour comparaison, en Allemagne un traducteur de livres doit publier trois ou quatre fois plus pour vivre de leur métier; chaque année 150 professionnels arrivent sur le marché, dont 80 traduisant de l'anglais. 

    Il continue en disant que dans ce métier "la règle est rare, c'est la négociation qui est la règle". Et que la rémunération moyenne des traducteurs a connue une baisse de 15 à 30% les 15 dernières années malgré la revalorisation calculée par certains éditeurs d'environ 10%. Cette baisse est due au mode de calcul bousculé par l'arrivée des ordinateurs comme outil de travail. Lorsqu'on tapait à la machine, la base de calcul était un feuillet de 25 lignes et 60 signes, l'éditeur comptait combien de feuillets comportait le manuscrit pour payer son traducteur sur cette base. Avec le traitement de texte et la possibilité de compter les signes, les éditeurs ont éliminé les blancs, c'est à dire "ils comptaient les signes seuls, pas les espaces entre les mots". D'où une baisse considérable. 

    En lisant ce texte j'ai fait une triste découverte que je n'ai heureusement jamais vécu: certains traducteurs reçoivent leur chèque seulement à la parution du livre et non à la remise du texte ! J'insiste sur le point d'exclamation car cette pratique me paraît abusive. Lorsque je pense à ce livre que j'ai traduit il y a maintenant plus d'un an et qui paraîtra - peut-être - cette année, l'éditeur n'ayant pas la date exacte, j'aurais beaucoup du mal à gérer mon anxiété.

    A titre très personnel, j'ai bien aimé apprendre que le traducteur professionnel travaille toute la journée et que le traducteur occasionnel se limite à "faire ses pages" toujours à la même heure quoi qu'il arrive, ce qui engendre une différence dans la "productivité" de chacun, certains traduisant 1000-1500 mots à l'heure d'autres piétinant à 200-400. Cela me donne un sympathique repère.

    J'étais surprise, par contre, de lire que certaines traductions ne sont pas relues par un correcteur. Il me paraît que, malgré toute la rigueur que l'on puisse avoir à réaliser un travail, il serait quasiment impossible ne pas laisser passer une petite faute par-ci par-là, surtout lorsque l'on traduit deux langues latines et leurs nombreux "faux amis". Le journaliste parle alors du cas de la publication de "Millénium" qui comportait des centaines de grosses fautes de français. Je n'étais pas au courant du cas Millénium, et vous ?

    Enfin le journaliste termine en disant que le traducteur est un auteur, que son nom doit apparaître sur la couverture ou au moins quelque part dans le livre et qu'il détient un droit moral inaliénable sur son travail. Tiens, certaines maisons d'éditions devraient bien lire ça.

    Pour les intéressés, ce numéro du Nouvel Observateur reste en kioske jusqu'à demain, lorsque le nouveau numéro paraît. Je sais que la plupart des informations transmises ici sont connues de la plupart d'entre vous, il n'empêche j'étais contente de trouver un article sur notre profession si méconnue et si rarement partagée, du coup je me suis sentie un peu moins seule...

    Sources : "La Condition du traducteur", de Pierre Assouline (CNL, 211) e une enquête commandée en 2010 par le Syndicat national des Traducteurs professionnels. 

     

     

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  • La cérémonie de la pleine luneJ'ai cherché des informations un peu partout mais je n'ai rien trouvé. Cependant, j'étais là en personne pour assister à la cérémonie de la pleine lune sur la plage de Haeundae. J'ai alors demandé à une amie coréenne la signification de cette fête qui reproduit des rituels de la société agraire en pleine ville, elle m'a expliqué que :

    Le jour de l'apparition de la première pleine lune de l'année, les familles se réunissent autour d'un feu afin de rendre hommage à la lune en remerciement de la récolte de l'année passée et pour lui demander protection aux plantations. Les femmes portent des vêtements traditionnels pendant toute la cérémonie qui seraient une reproduction des habits de l'une des reines de la dynastie Silla, celle qui a apparemment institué la fête dans le Royaume. Le plat traditionnellement servi dans la cérémonie est le riz aux cinq graines qui sont le riz, le haricot, l'orge, le millet et le haricot rouge probablement pour suggérer l'abondance. Le feu est allumé pour détruire les insectes nocifs, sur le plan terrestre, et faire fuir les mauvais esprits, sur le plan spirituel.

    En cette année 2007 cette fête a été réalisée donc sur la plage de Haeundae dans la ville de Busan. Un arbre d'environ 10 mètres a été construit et placé sur le sable. Autour de lui, des groupes de danses et de musiques traditionnelles se présentaient, plusieurs orateurs, dont le maire de la ville et quelques personnalités politiques, ont fait des discours sur une scène installée pour l'occasion. Je n'ai pu malheureusement comprendre le contenu des discours.

    A 18 h ils ont mis le feu dans l'arbre, immense. Les quelques milliers de gens qui se bousculaient pour regarder de près le spectacle, et en particulier la "mise en feu", ont commencé à courir dans la direction contraire, tout d'un coup ; le feu était assez impressionnant et la fumée noire ainsi que les bouts de braise qui tombaient sur nos têtes étaient spectaculaires. 

    J'avoue avoir été très heureuse d'avoir participé à cette cérémonie même sans avoir trop saisi complètement le sens sur le moment, mais aussi que la surprise de voir la foule qui courrait vers nous, mon petit garçon et moi, en criant, décorée d'un énorme feu en arrière plan, était assez effrayant. Si au moins on m'en avait averti... 

        La cérémonie de la pleine lune                 La cérémonie de la pleine lune                    La cérémonie de la pleine lune

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  • La singulière langue PirahãIl y a quelques semaines j'ai regardé, sur ARTE, un documentaire fascinant. Il contenait tellement d'informations que j'ai éprouvé une certaine difficulté à choisir par quel angle l'aborder.

    Il parlait des particularités de la langue pirahã, parlée par les Pirahãs, un groupe ethnique qui vit sur les rives de la Rivière Maici, en Amazonie brésilienne. Ils n'ont aucun ou très peu de contact avec d'autres groupes ethniques, encore mois avec les membres de la société nationale qu'ils craignent. Le documentaire commençait en racontant l'expérience du professeur Daniel Everett de l'Université de Berkeley, Californie, qui a vécu dix ans avec les Pirahã dans les années 1970. Pendant ces années-là, il a fait une découverte révolutionnaire car elle met en cause la théorie du système unique du langage construite par le grand linguiste Noam Chomsky dans les années 1950, jusqu'alors jamais remise en question. Je vais essayer de résumer, ici, les principales particularités de la langue pirahã qui ont conduit à cette immense polémique:

    La langue pirahã est parlée seulement par les 300 Pirahãs qui composent, à ce jour, cette ethnie; les Pirahãs ne parlent que cette langue; elle peut être parlée, chantée, sifflée ou murmurée; un seul mot possède plusieurs significations différentes, c'est le ton avec lequel le mot est prononcé qui distingue le sens attribué; elle n'a pas de chiffres ou aucun système de calcul; elle n'a pas de vocabulaire pour les couleurs cependant elle a un mot pour chaque espèce végétale ou animale de la forêt environnante, qui permet de décrire avec détail les propriétés de chaque plante et le mode de vie du plus petit insecte ou être vivant; elle n'a pas de conjonctions; un même mot désigne le père et la mère, les pirahãs ont un système de parenté extrêmement simple, il n'y a pas de vocabulaire pour designer les relations qui vont au-délà des parents et des frères et soeurs. Et donc l'aspect le plus controversé qui a mené à la théorie qui a engendré la polémique consiste dans la constatation que la langue pirahã n'a ni passé ni futur, elle est conjugué seulement au présent.

    Selon l'interprétation de ce chercheur, les Pirahãs vivent absolument dans le présent, ils concentrent leur esprit et leur pensée sur leurs besoins immédiats sans regrets sur le passé ou des angoisses sur leur avenir. Par conséquent, cette langue serait non-récursive. C'est l'impossibilité de la récursivité d'une langue qui contrarie la théorie centrale de Noam Chomsky totalement fondée sur l'idée de la grammaire universelle. Pour ce linguiste, la capacité linguistique de la grammaire serait inscrite dans le génome humain. Elle serait la composante scientifique du langage. Et cette faculté du langage humain se résumerait, à son tour, dans l'universalité de la récursivité.

    Lorsque Everett affirme que la langue des Piranhãs ne présente pas la possibilité récursive, l'on admet, alors, que le langage n'est pas nécessairement récursif. Ce serait la culture, en total symbiose avec la nature e dominée par le sentiment de bonheur qui construit et modèle la langue pirahã. Ce qui conduit à la constatation que la culture jouerait un rôle central non seulement sur la construction des mots mais aussi sur la grammaire d'une langue. Cette affirmation viendrait à l'encontre de l'idée d'universalité de la grammaire telle qu'elle avait été jusqu'alors conçue, et qui constitue le principal pilier de la théorie fondatrice de Chomsky. 

    D'après ce que j'ai pu comprendre dans ce documentaire, cette polémique est encore d'actualité car Everett retrouve beaucoup de difficulté à présenter le résultat de ses recherches dans l'univers académique. Le plus fascinant par dessus tout à mon humble avis ce fut de constater que ses découvertes vont bien au-delà de l'aspect linguistique et de la polémique dans laquelle il se trouve. Elles ont atteint ce chercheur dans le plus profond de son être. Le missionnaire Daniel Everett, étant parti en Amazonie pour évangéliser les Pirahãs a été converti par eux. Le perceptible et contagieux bonheur dominant et omniprésent dans cette communauté a rendu sa mission inutile et obsolète. Car que représente l'idée d'un "monde meilleur" implicite dans les promesses de salut à un peuple qui est heureux ici et maintenant? La surprenante conséquence de cette expérience transformatrice est d'apprendre que ce ex-missionnaire convaincu affirme aujourd'hui être athée. Le sorcier ensorcelé.  

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  • Seollal ou Nouvel An LunairePendant mon séjour en Corée, j'ai pu témoigner des festivités qui célébrent la Seollal, ou le Nouvel An Lunaire. C'est une des trois plus importantes fêtes nationales du pays, avec la Chuseok, sur laquelle je parlerai prochainement, et l'anniversaire de Boudha le 12 mai.

    La Seollal dure trois jours. L'année 2008, les festivités ont commencé le 6 février, qui représentait la veille du Nouvel An proprement dit. Ce jour-là, les familles s'habillent avec des vêtements traditionnels et se réunissent pour préparer les offrandes qui seront offertes aux ancêtres. Traditionnellement le repas est composé de vingt plats dont les principaux étant la soupe aux gâteaux de riz et la viande de boeuf. Après la cérémonie, toute la famille dîne ensemble, puis les plus jeunes se prosternent devant leurs aînés qui leur diront des mots de sagesses tels que "prends bien soin de toi" , "trouve quelqu'un de bien" etc. A la fin des rituels, la famille joue ensemble des jeux traditionnels tels que le Yutnori, un jeu de batonnêts d'origine japonais et le Hwatu, un jeu de cartes typiquement coréen. Les autres membres de la famille s'échangent des cadeaux tels que le ginseng, le miel, des boîtes de thon, du shampoing ou des fruits que l'on trouve dans des jolis coffrets-cadeaux dans les supermarchés (voir les photos).

    Cette année-là était l'année du rat. Chaque année un animal symbolique devient prédominant astrologiquement parlant, dont les caractéristiques vont déterminer la personnalité des personnes nées au courant de l'année en question. Pour le rat, ce sont l'abondance, l'espérance et l'opportunité. Les personnes nées sous le signe du rat sont capables de prévoir les risques et, par conséquent, ce sont des gens qui ont tout pour réussir dans la vie. Pour résumer, l'on croit que le rat représente la chance. 

    L'année 2013 est l'année du serpent, d'après ce que j'ai appris les caractéristiques de cet animal sont un curieux mélange d'instinct grégaire et introspectif. Les personées nées sous le signe du serpent sont considérées généreuses, délicates, charmantes et attirantes. 

     Seollal ou Nouvel An Lunaire   Seollal ou Nouvel An Lunaire   Seollal ou Nouvel An Lunaire   Seollal ou Nouvel An Lunaire

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  • Contorno no VietnamDe um modo geral, é difícil sabermos quando as representações que fazemos de uma determinada sociedade ou cultura começaram a se construir em nosso próprio imaginário individual. No caso do Vietnam, conheço exatamente quando a idéia que tinha desse país, até então, começou a se formar, essa imagem ancorou-se em mim com mais força do que os relatos de guerra ou as estatísticas econômicas conhecidas de todos: ela surgiu quando assisti ao filme Odeur de papaye verte, pequena obra prima cinematográfica filmado no Vietnam, cujas sublimes imagens dominadas pela doçura e leveza de sua personagem principal, me fizeram acreditar que assim essa sociedade também o seria. Ledo engano.

    Herança das violentas guerras recentes, consequência de um regime socialista totalitário, do instinto de sobrevivência cotidiano, seja qual for a razão ou a causa, em minha curta experiência nesse país percebi que os vietnamitas não têm o sorriso fácil, principalmente se comparados com os coreanos que nos recebem como se estivéssemos em sua própria casa. Observa-se, ali, uma certa dureza nas relações sociais.

    A pobreza é visível na caótica e barulhenta Hanoi, capital política do país, cuja infraestrutura se mostra, ainda hoje, carente de tudo. Não visitamos outras localidades para comparar, talvez as cidades mais turísticas do sul sejam melhor providas de estradas, ruas ou calçadas, mas foi a primeira vez em uma viagem turística que fiquei com pressa de ir embora. Paradoxalmente, a comida é, na minha opinião, a melhor da Ásia, a mais variada, a mais perfumada, a mais inventiva e saborosa de todas.

    As culturas de arroz à poucos quilômetros da cidade são cultivadas manualmente proporcionando imagens autênticas da vida no campo tais quais as recebemos por esses lados do planeta, dominada por mulheres trabalhando a terra, usando o chapéu cônico de palha, verdadeira instituição nessa sociedade. Como em um cartão postal.

    A Baia de Halong é realmente linda, possui uma atmosfera misteriosa, decorada de dezenas de pequenos pães de açúcar cobertos de uma leve neblina, de onde saem, inesperadamente, vendedoras ambulantes que propõem seus produtos em pequenos barcos que elas corajosamente levam, à remo, de um lado para o outro da baía, indo até lá onde estão os eventuais compradores, majoritariamente turistas.

    O passeio em piroga pelo rio Yên que corta os campos de arroz ficará também como uma mágica lembrança desse desconcertante país.

    Decididamente, o Vietnam é um destino para os bichos grilos do mundo inteiro que acreditam nos malefícios da tecnologia moderna mas que possuem a capacidade de fazer abstração das difíceis condições de vida dos habitantes desse país, vítimas, como muitos outros, da mediocridade dos seus governantes.

      Contorno no Vietnam  Contorno no Vietnam  Contorno no Vietnam  Contorno no Vietnam   

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  • A particularidade da língua piraha Semana passada assisti a um documentário no canal franco-alemão ARTE extremamente fascinante. Ele continha tanta informação que encontrei uma certa dificuldade em escolher através de que ângulo comentá-lo.

    Ele abordava as particularidades da língua pirahã, falada pelos Pirahãs, um grupo étnico que vive nas bordas do Rio Maici na Amazônia brasileira com nenhum ou pouquíssimo contato com outros grupos étnicos, ainda menos com membros da sociedade nacional de quem têm medo. Ele começa com a experiência do professor Daniel Everett da Universidade de Berkeley, Califórnia, que viveu dez anos com os Pirahãs nos anos 1970, onde fez uma descoberta revolucionária pois ela enternece a teoria do sistema único de linguagem construída pelo grande linguista Noam Chomsky nos anos 1950, até então nunca questionada. Vou tentar resumir aqui algumas das particularidades da língua pirahã que conduziram a tal polêmica:

    A língua pirahã é falada somente pelos aproximadamente 300 Pirahãs que compõem, hoje, essa etnia; os Pirahãs falam somente essa língua; ela pode ser falada, cantada, assuviada ou sussurrada; uma única palavra tem vários significados diferentes, é o ton com a qual ela é pronunciada que distingue o sentido atribuido; ela não possui números ou qualquer sistema de cálculos nem vocabulário para cores mas possui um nome para todas as espécies vegetais e animais da floresta onde vivem, que permite descrever com detalhe as propriedades de cada planta e o modo de vida do menor inseto ou ser vivo ali presente; ela não possui conjunções; uma mesma palavra designa o pai e a mãe, os pirahãs possuem um sistema de parentesco extremamente simples, não havendo vocabulário para designar relações além dos pais e irmãos. E o aspecto mais controverso que gerou a teoria que engendraria a polêmica consiste na constatação de que a língua pirahã não possui passado nem futuro, ela é conjugada somente no presente.

    De acordo com a interpretação desse pesquisador, os Pirahãs vivem absolutamente no presente, eles concentram seu espírito e pensamento em suas necessidades imediatas sem remorsos sobre o passado nem angústias sobre o futuro. Consequentemente essa língua seria não-recursiva. É a impossilidade de recursividade de uma língua que contraria a teoria central de Noam Chomsky totalmente fundada na ideia de uma gramática universal. Para esse linguista, a capacidade linguística da gramática estaria inscrita no genoma humano. Ela seria o componente científico da linguagem. E essa faculdade da linguagem humana se resumiria, por sua vez, na universalidade da recursividade. 

    Ao afirmar que a língua dos Piranhãs não apresenta a possibilidade recursiva, assume-se então que a linguagem não é necessariamente recursiva. Ê a cultura em total simbiose com a natureza e dominada pelo sentimento de felicidade que formata a língua pirahã. O que leva a constatação que a cultura afetaria não somente as palavras mas também a gramática de uma língua. O que, por sua vez, desmente a ideia da universalidade da gramática tal qual ela havia sido até então concebida, que constitui o principal pilar da teoria fundadora de Chomsky.

    Pelo que pude entender no documentário, essa polêmica ainda está no ar pois Everett encontra imensas dificuldades para apresentar o resultado de suas pesquisas no mundo acadêmico. Mas o que me fascinou foi perceber que suas descobertas vão muito além de sua vertente linguística e da polêmica universitária na qual se encontra. Elas atingiram esse pesquisador no seu mais profundo ser. O então missionário Daniel Everett que foi morar na Amazônia para evangelizar os Pirahãs acabou sendo convertido por eles. A perceptível e contagiante felicidade dominante nessa comunidade tornou sua missão inútil e obsoleta pois o que representa a ideia de "um mundo melhor" implícita nas promessas de salvação para um povo que é feliz aqui e agora? A surpreendente consequência dessa experiência transformadora é saber que esse ex-missionário convicto afirma hoje ser ateu. O feiticeiro enfeitiçado.  

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  • Tropeços nos trópicos Tropeços nos trópicos é o título do livro do americano Michael Kepp que reúne algumas de suas crônicas publicadas nós últimos anos na Folha de São Paulo. Além do atraente título, foi o subtítulo do livro que chamou minha atenção: "crônicas de um gringo brasileiro". Nelas, Michael Kepp confessa alguns dos seus pequenos pecados ordinários, muitos deles associados, de uma forma ou de outra, às diferenças culturais vivenciadas por um missouriano no Rio de Janeiro, onde mora há quase trinta anos. E foi justamente o olhar de um americano sobre a minha cidade natal que me interessou particularmente. Intrigou-me saber o que o levou ao lugar que eu mesma deixara vinte anos atrás.

    O livro possui uma linguagem agradável que implica uma proximadade com o leitor, seu autor se desnuda ao contar, inclusive, algumas de suas experiências íntimas. Característica que eu aprecio particularmente pois anos de estudos "científicos" me formataram para fazer exatamente o contrário, ou seja, criar uma distância com o texto para evitar, justamente, que o leitor detecte o ponto de vista pessoal do autor. Apesar de tê-lo comprado para meu marido francês com a esperança de convencê-lo a voltarmos para o Brasil, percebi, ao terminar o livro, que foi um outro aspecto da leitura que me marcou.

    Nesses vinte anos que deixei o Rio tenho tido uma relação estreita com a França e os franceses. Conheço bem o ponto de vista deles sobre o Brasil, suas reações ao visitarem o país, o que eles adoram e o que detestam em nosso comportamento. Através da leitura desse livro, pude constatar, mesmo que superficialmente, que as observações críticas e os afetos de um americano com relação aos brasileiros são muito próximos aos dos franceses.

    O que levou-me à teoria construída por Philippe Nemo sobre a existência de uma cultura ocidental comum (o ocidente ao qual me refiro, aqui, seria a sua noção política e não geográfica). De acordo com esse autor, essa cultura ocidental teria sido estruturada em cinco momentos essenciais que foram: a invenção da ciência pelos gregos, a do direito privado e do humanismo por Roma, a profecia ética e escatológica propagada pela Bíblia, a revolução papal dos séculos XI e XIII e enfim o que conviu-se chamar de "as grandes revoluções democráticas modernas". Esses cinco momentos evolucionários teriam provocado, segundo Nemo, uma mutação sem precedentes nas relações humanas constituindo uma cultura comum às sociedades que foram palco de tais eventos, mesmo que anacronicamente. Essas sociedades são as que compõem a Europa e a América do Norte.

    Embora nós, latino-americanos, sejamos considerados culturalmente próximos do ocidente por termos vivenciado um ou outro dos eventos acima descritos devido, também, ao fato de sermos produto de uma colonização europeia, não somos, contudo, membros integrantes desse grupo. O que engendraria, então, as diferenças culturais entre o norte e o sul, o estranhamento e a atração compartilhada entre americanos e europeus quando encontram-se nos trópicos.

    Claro que esse atalho analítico é superficial e resumido ao extremo. Meu objetivo é abrir uma discussão. Termino, então, esse pequeno post com uma provocação. Quem sabe não cheguemos à irônica conclusão, algum dia, que os franceses e os americanos possuam mais em comum do que sua relação recíproca de amor e ódio gostaria de admitir?... 

    Tropeços nos trópicos - crônicas de um gringo brasileiro, RJ, Editora Record, 2011.

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  • Muitos talvez não saibam, mas nossa profissão é frequentemente subestimada ou mesmo desvalorizada por aqueles que acreditam que falar mais de um idioma é critério suficiente para a realização de uma boa tradução. Participei de muitos fórums de discussão com pessoas de diversas partes do mundo que abordavam esse assunto e pude constatar que esse equívoco é um fenômeno universal. Não vou me aprofundar agora nessa questão mas compartilhar um vídeo que resume e reverte brilhantemente essa visão errônea que infelizmente ainda predomina. Apreciem a fineza com a qual o seu autor, Erik Skuggevik, da Norwegian Association of Literaty Translators, manipula as palavras, as frases, o verbo (produzido por Iver Grimstad): 

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  • Festival de areiaDurante nossa estada na Coreia, participamos do Sand Festival ou Festival de Areia realizado por organismos  públicos na praia de Haeundae, a mais popular do país. Foi um meio interessante que encontraram para incentivar o turismo local. Como em muitos outros eventos que acontecem nesse país, a adesão popular é grande, confirmada pelo número de ônibus de excursão vindos de outras cidades estacionados na praia. O festival de areia dura quatro dias e marca a chegada do verão.

    Durante esses quatro dias, são realizados muitos esportes de praia como volei, futebol e maratona nas areias de Haeundae, assim como jogos para crianças e shows de música. Acredito, contudo, que o ponto alto do evento é o campeonato de esculturas na areia que transforma completamente a paisagem ordinária que adquire uma atmosfera lunar.

    Vemos famílias inteiras construindo animais, objetos e personagens de desenhos animados, brincando juntas, divertindo-se como crianças, sem nenhuma competência particular para a escultura ou qualquer pretensão em ganhar o concurso. Mas pudemos também testemunhar o talento de amadores que realizaram verdadeiras obras de arte cujas fotos compartilho com vocês.

            Festival de areia           Festival de areia           Festival de areia 

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