• O anti-sexismo do pronome neutro

    No final de semana li um artigo que falava sobre o modo como a língua de um país estrutura o pensamento de um povo, considerada um dos principais elementos constitutivos da cultura. Esse debate é antigo, nem todos os especialistas concordam com essa corrente de pensamento e afirmam o contrário. Não vou, aqui, tomar partido, mas dizer que esse artigo me levou a pensar em uma reportagem interessantíssima que assisti recentemente sobre as mudanças sociais profundas que estão ocorrendo já há algum tempo na Suécia. O tema principal era o sexismo e os instrumentos de luta contra discriminações sexistas de um modo geral e a discriminação contra a mulher em particular. 

    Na Suécia, um dos países mais igualitários do mundo em termos de gênero, diferenças ligadas ao sexo estão sendo progressivamente abolidas. Elas vão desde a instauração da licença paternidade, a reivindicação da igualdade salarial entre homens e mulheres até a indistinção sexual nos hábitos vestimentares. Algumas famílias vestem seus filhos com vestidos, calças compridas ou saias indiscriminadamente. As crianças escolhem o que querem vestir sem se perguntar se aquela peça é (ou era), à princípio, usada por meninos ou meninas. Os cortes de cabelo também não obedecem à nenhuma distinção sexual. Nas creches e escolas primárias são feitos exercícios que mostram homens exercendo atividades antes consideradas femininas e mulheres exercendo atividades antes consideradas masculinas. O objetivo desses profissionais é anular qualquer identificação pelo sexo, considerada inútil na vida social pois nosso comportamento não deveria, segundo essa corrente, ser orientado pelo fato de ter-se diante de si um homem ou uma mulher. O que mudaria e porque? O respeito, a consideração, as regras cívicas devem ser indistinitamente aplicadas a um e a outro sexo.

    Porém, esses profissionais esbarraram-se em uma questão aparentemente anódina mas essencial para a evolução não somente da prática desses exercícios mas, em última instância, dos valores sociais dominantes: como mencionar uma pessoa sem que a questão da identidade sexual seja necessariamente implicada já que devemos dizer ele ou ela, han ou hon (pronomes pessoais masculino e feminino em sueco)? Criaram, assim, um pronome neutro, o pronome HEN, nem masculino nem feminino, que não existia no idioma sueco. 

    A criação e a introdução desse pronome neutro na língua sueca me pareceu um excelente tema de discussão referente à questão da influência da língua pela cultura ou da cultura pela língua. Sabemos que o pronome neutro existe em outras línguas, mas ele mostra o longo caminho que nós, de língua e cultura latinas, temos para percorrer a fim de atingirmos esse patamar de neutralidade na luta contra as discriminações sexuais. 

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