• O existencialismo na era de Facebook

    O existencialismo na era de FacebookConsiderando o clima geral assaz sombrio que domina atualmente, gostaria de propor, hoje, um post leve e descontraído. Ele diz respeito ao lugar que Facebook ocupa em nossas vidas e o modo como essa rede social afeta nossos humores. Mesmo que eu não seja sua defensora incondicional por razões que não exporei aqui agora, ouço dizerem muita coisa a seu respeito com a qual não concordo totalmente. Afinal, a utilização que cada um faz de sua página é extremamente variável, cabe a cada um assumir o que deseja expor a seus amigos ou a desconhecidos, de acordo com os parâmetros de confidencialidade que ele mesmo estabeleceu.

    Se você postar uma foto sua nu(a), deverá assumir que suas partes íntimas não serão mais um segredo para ninguém. Se você criticou seu chefe abertamente, deverá supor à eventualidade de uma demissão. Se você contar a noite tórrida que passou com alguém que conheceu na véspera, mas tem um relacionamento firme com alguém, deverá pensar na possibilidade do término da sua relação. Em todos esses casos, Facebook somente amplia as possíveis consequências que sempre existiram. Mas não se desengaje da responsabilidade de seus próprios atos se você decidiu, voluntariamente, torná-los públicos.

    Outro dia, portanto, identifiquei uma função mais contundente, cruel ou tranquilizante, que todas as outras já evocadas sobre essa rede social: a de termômetro de nossa própria vida. Facebook se torna, de repente, uma ferramenta de filosofia existencialista. Ora, parece-me evidente que a vida dos outros exposta em belas fotos e frases sorridentes nos envia inevitavelmente a nossa própria, com uma lente de aumento. Ao ver as aventuras, as viagens, os amores, os amigos e as alegrias dos outros, você nunca se perguntou “o que é que eu fiz da minha vida?”. O questionamento vai ainda mais longe: será que realizei meus sonhos? Escolhi a profissão que me convém? Escolhi a pessoa que realmente combina comigo?

    Você passou a noite brigando com seu filho que não queria fazer seus deveres e tomar banho? A viagem à Tailândia de sua amiga de infância surge como um tapa na cara. Você brigou com seu companheiro há dois dias por causa de uma toalha molhada deixada em cima da cama? O encontro de sua amiga solteira e aquele belo italiano num bar em La Baule no último réveillon entra como uma facada nas costas. Você está desempregada depois de tantos anos dedicados aos estudos? A promoção de sua amiga de faculdade emerge como uma alta traição.

    É bem verdade que tudo sobre o escrevo aqui não é novo, o sucesso e o fracasso dos outros sempre influenciaram nossos humores, seja por compaixão solidária ou por uma inveja culpada. O que muda com Facebook, é que descobrimos tudo isso ao mesmo tempo, de repente, de manhã, dentro de um pijama furado, descabeladas e sem maquiagem, com velhos chinelos nos pés e uma enorme xícara de café na mão. Além disso, não é cinema, não são celebridades distantes, são nossa gente, amigos e familiares. O estado no qual todas essas informações nos deixam aparece, no fundo, como um termômetro que mediria nossos próprios sucessos e fracassos, e poderia agir, se reagíssemos com bom humor, como uma boa sacudida que nos impulsionaria à procura de nossa própria versão de felicidade. Eu sei que nem sempre é fácil, mas cabe a nós, ao menos, tentar encontrar um meio de fazê-lo.  

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