• Homenagem a um ilustre tradutor

    Homenagem a um ilustre tradutorA tradução é uma profissão da sombra, como muitas outras. Os tradutores mais conhecidos ficaram famosos por seu trabalho como autor, como Milan Kundera ou o nosso Machado de Assis. É por essa razão que a homenagem prestada ao tradutor francês Bernard Hoepffner há alguns meses na revista L'Obs merece ser ressaltada. Esse post será minha maneira de honrar a memória de um ilustre colega que nos deixou cedo demais. 

    Confesso que não conhecia Bernard Hoepffner até a leitura da triste notícia de sua morte em maio desse ano. E portanto, nesse artigo publicado dia 13 de julho, ele é apresentado como um dos maiores tradutores franceses, tendo traduzido Joyce, Melville, Orwell, Self ou Sorrentino com uma grande sensibilidade e justeza. 

    A jornalista Anne Crignon lhe dedicou um artigo de três páginas intitulado literalmente "Um tradutor no mar" (Un traducteur à la mer), no qual ela conta sua trajetória sinuosa, de seu nascimento em Estrasburgo em 1946 a seu desaparecimento no mar, levado por uma onda no País de Gales, onde ele havia vivido e pelo qual era apaixonado. Ela fala de seu anticonformismo que contraria seu pai burguês que sonhava de um destino mais convencional para seu filho. Segundo as autoridades locais, a possibilidade de um suicídio não é excluida. 

    Seu percurso pontuado de contornos, seu espírito contestador e seu temperamento indócil revelam o perfil de alguém em busca de si mesmo, inquieto e curioso. Uma pessoa profunda. Essas características não me são totalmente indiferentes. Elas me lembraram uma pequena piada que circulava na faculdade durante meus estudos de antropologia, sobre a escolha de nossa profissão. Segundo ela, "aqueles que se sentem mal em sua sociedade estudam Sociologia, aqueles que se sentem mal consigo mesmo estudam Psicologia, e os que se sentem mal em sua sociedade e consigo mesmo estudam antropologia"

    Eu já havia falado aqui mesmo nesse blog sobre as semelhanças entre a antropologia e a tradução, sugerindo que a abordagem era a mesma, que consiste em traduzir um fato social, para a primeira, e um texto para a segunda, de uma cultura (ou de um grupo) a outra, tornando-os compreensíveis em um contexto diferente daquele no qual foram produzidos. Ao ler o artigo de Anne Crignon sobre a trajetória de Bernard Hoepffner, eu disse a mim mesma que a pequena piada que circulava na faculdade sobre uma certa inadequação dos antropólogos "colava" também a muitos de nós, tradutores, que vagamos de um universo a outro, em um vai e vem permanente que me é tão familiar. 

     

     

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