• A invisibilidade do tradutor no BrasilNo momento da vida no qual me encontro, não quero nem busco polêmicas, e também descobri - mas isso já faz algum tempo - que não tenho que provar nada para ninguém. Por outro lado, o reconhecimento de um trabalho feito com dedicação e rigor, isso sim, é sempre bem-vindo em qualquer fase das nossas vidas, em qualquer idade, em qualquer profissão. Mesmo porque, apesar de já ter alguns anos de experiência nessa área, fico sempre na expectativa de uma observação ou crítica  - construtiva - das editoras com as quais trabalho, para evoluir, crescer, aperfeiçoar-me. Apesar de minha profissão poder ser exercida individualmente em casa na frente do computador, encaro-a como um trabalho de equipe que visa um resultado comum de qualidade, embora já tenha percebido que nem todas as agências, editoras ou clientes com os quais trabalho o vejam assim. Talvez por medo de ofender, de machucar nossos egos vulneráveis, quase nunca nos dão um retorno. 

    Porém, o assunto em questão não é exatamente esse, mas o fato de, no Brasil, não sermos citados em artigos que falam sobre uma determinada obra. Quando isso acontece, é porque a tradução foi feita por alguém "famoso" (no Brasil adoram famosos). Na França, o nome do tradutor é sempre mencionado logo depois do nome do autor, pois já entenderam, aqui, o quanto uma boa tradução é importante para uma edição bem sucedida (em termos de qualidade, não de vendas). E, claro, uma má tradução pode tornar um bom autor medíocre. A oficialização da "coautoria" do tradutor é, na verdade, também, uma forma de compartilhar responsabilidades tanto num caso como no outro. O que acho totalmente justo.

    Recentemente li um artigo no blog da Rafaela Zimermann que falava sobre isso (o link encontra-se abaixo). Segundo ela, o tradutor é alguém que se deixa ficar na penumbra para que grandes obras tenham o destaque que merecem, mas, sem o qual, tal destaque não aconteceria. A missão do tradutor seria não somente traduzir a obra, mas "deixar o escritor se exprimir em outra língua" [...] o que exige "reflexão, estudo, pesquisa e, sobretudo, sensibilidade, para permitir ao leitor algo o mais próximo possível da experiência de ler determinado autor como se tivesse fluência em sua língua".

    Em minha experiência pessoal, senti-me desconfortável ao ler o prefácio da edição brasileira de um livro que traduzi, pois suas autoras falaram da tradução sem mencionar meu nome. Totalmente invisível. Isso já havia acontecido outras vezes, não foi a primeira vez e nem será a última. Perguntei-me, então, porque naquele livro aquilo tinha me incomodado tanto. Acho que encontrei a resposta: o livro fala sobre o lugar da mulher nos textos acadêmicos, é uma releitura de grandes clássicos "resgatando o olhar (ou sua ausência) sobre as mulheres, pela ótica do gênero e do pensamento feminista". Ele parte, portando, de uma iniciativa e abordagem feministas. Não é que eu queira me auto vangloriar demasiadamente, mas tive a nítida impressão que as autoras do prefácio cometeram o mesmo lapso dos autores que supostamente criticam. Ou para dizê-lo em outras palavras, elas simplesmente perderam uma bela oportunidade de evidenciar o trabalho de uma companheira de luta, uma mulher tradutora, nem que tivesse sido por pura solidariedade feminista.

    Blog da Rafaela Zimermann

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