• Lévi-StraussClaude Lévi-Strauss sempre me fascinou. O homem ou o etnólogo? Parece-me difícil dissociar os dois, principalmente para a antropóloga que sou. Eu sempre afirmei, aqui e alhures, que a antropologia é muito mais que uma simples escolha profissional, que ela representa uma nova maneira de ver o mundo, uma ruptura com nosso próprio sistema de pensamento através da instauração da distância epistemológica, do "olhar distanciado" lévi-straussiano. Tudo o que nos envolve torna-se, de alguma forma, objeto de observação, pois nossos atos, gestos, pensamentos e comportamentos são produtos de nossa cultura e, consequentemente, sujeitos à análise.  

    Meu apego a esse personagem é muito forte, eu sempre me perguntei porque. Afinal, o estruturalismo nunca foi o meu forte. Confesso que não li "As estruturas elementares do parentesco" até o fim. O "meu" Lévi-Strauss é o da Raça e história, Tristes Trópicos O pensamento selvagem. Eu nem mencionarei Saudades do Brasil pois, aqui, é a emoção pura que fala, o coração de uma brasileira expatriada há mais de vinte anos, começando pelo título - em português na versão francesa, que já me emociona. A resposta a essa excessiva admiração foi dada durante a leitura do fascinante livro "Lévi-Strauss"de Emmanuelle Loyer. Eu ainda não o terminei, mas já estou apaixonada. A autora é minuciosa, detalhista, o trabalho documentário realizado é enorme, mas o que mais me tocou - e isso é minha interpretação pessoal, foi que ela o humanizou. Pois Claude Lévi-Strauss, ícone da etnologia francesa, foi frequentemente envolvido por um respeito cerimonioso, uma distância reverente. Emmanuelle Loyer o mostra diante de suas dúvidas e hesitações, seus defeitos e qualidades. Ela o apresenta guloso, amante de carros, ela fala de seus fracassos e em momento nenhum tenho a impressão que ela parece estar "pisando em ovos", como eu teria feito. O resultado é extraordinário, à altura do personagem. 

    Esse livro e a conferência dada por Emmanuelle Loyer, a qual eu tive o privilégio de assistir, ajudaram-me a desvendar o mistério da excessiva admiração que tenho por Lévi-Strauss. Eu enfim compreendi o que me fascina nele: foi um dos raros a ter questionado a arrogante supremacia da cultura ocidental - frequentemente considerada como um objetivo a ser atingido - colocando-a no mesmo nível que qualquer outra cultura. E ele o faz com legitimidade, propriedade, um enorme conhecimento e, sobretudo, muita classe.

    Lévi-Strauss d'Emmanuelle Loyer, Flammarion, 2015. Prix Femina 2015 (ainda não traduzido em português, mas farei tudo para que o seja)

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  • Claude Lévi-Strauss m'a toujours fascinée. L'homme ou l'ethnologue ? Il m'est impossible de dissocier les deux, surtout pour l'anthropologue que je suis. J'ai toujours affirmé ici ou là que l'anthropologie est beaucoup plus qu'un choix professionnel, elle représente une nouvelle manière de voir le monde, une rupture avec notre propre système de pensée à travers l'instauration de la distance épistémologique, du regard éloigné lévi-straussien. Tout ce que nous entoure devient, en quelque sorte, objet d'observation, car nos actes, nos pensées, nos gestes et comportements sont produits par notre culture et, par conséquent, sujets à analyse. 

    Mon attachement à ce personnage est très fort, je me suis souvent demandé pourquoi. Après tout, le structuralisme n'a jamais vraiment été ma "tasse de thé". J'avoue ne pas avoir lu "Les structures élémentaires de la parenté" jusqu'au bout. "Mon" Lévi-Strauss est celui de Race et histoire, Tristes Tropiques et La pensée sauvage. Je ne mentionnerai même pas Saudades do Brasil car, ici, c'est l'émotion pure qui parle, le coeur d'une brésilienne expatriée depuis plus de vingt ans, à commencer par le titre - en portugais dans sa version française, qui me touche déjà. La réponse à cette excessive admiration m'a été donnée à la lecture du fascinant livre "Lévi-Strauss" d'Emmanuelle Loyer. Je ne l'ai pas encore fini, mais je suis déjà conquise. L'auteure est minutieuse, détailliste, le travail documentaire réalisé est énorme, mais surtout - et cela est mon interprétation personnelle, elle l'a humanisé. Car Lévi-Strauss, icône de l'ethnologie française, a souvent été entouré d'un respect cérémonieux, d'une distance révérencieuse. Emmanuelle Loyer l'a montré en prise avec ses doutes, ses hésitations, ses défauts et ses qualités. Elle le montre gourmand, amateur de voitures, elle parle de ses échecs, en aucun moment je n'ai l'impression qu'elle marche sur des oeufs comme, moi, je l'aurais fait. Le résultat est extraordinaire, à la hauteur du personnage.

    Ce livre et la conférence donnée par Emmanuelle Loyer à laquelle j'ai assisté m'ont aidée à dénouer le mystère de mon excessive admiration pour Lévi-Strauss. J'ai enfin compris ce que j'aime le plus chez lui : c'est l'un des rares à avoir mis en cause l'arrogante suprématie de la culture occidentale - souvent considérée comme un but à atteindre - en la plaçant à un niveau égal à toute autre culture avec légitimité, propriété, une énorme connaissance et, surtout, beaucoup de classe. 

    Lévi-Strauss d'Emmanuelle Loyer, Flammarion, 2015. Prix Femina 2015. 

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